Obesidade e Resiliência
A obesidade é uma preocupação crescente, reconhecida pela OMS como um problema de saúde pública tão grave quanto a desnutrição. Este post introduz o conceito de resiliência para melhor compreensão da questão.
1- Obesidade e Resiliência:
` `Atualmente a obesidade preocupa a todos, já tendo chegado, em especial, a suscitar apreensões por parte da Organização Mundial de Saúde (OMS). Um estudo do Ministério da Saúde diz que a OMS já considera a obesidade um problema de saúde pública tão grave quanto a desnutrição. Sendo assim, gostaria de ampliar o foco desta reflexão introduzindo um novo conceito com o intuito de contribuir para melhor compreensão da questão. O Gordo é um Resiliente? Resiliência não é o nome de mais uma fórmula mágica que promete emagrecimento relâmpago. É comum não saber o que é um Resiliente, mas sabemos o que é ser gordo. Pois ser gordo, na atualidade parece que é também ser um Resiliente.
` `E o que é ser Resiliente? O conceito de Resiliência tradicionalmente utilizado pela Física expressa uma característica mecânica de maior resistência ao choque de um determinado material. Sua utilização pelas ciências humanas começou nos Estados Unidos, na década de 80, identificando a capacidade de um indivíduo resistir aos embates mais duros da vida. Passou a dizer respeito ao conjunto de fatores que fazem com que um indivíduo consiga sair-se bem depois de uma ou várias experiências catastróficas, como guerras, orfandade, desastres naturais, violência doméstica ou escolar, como por exemplo àquela que caracteriza os “bullyings” nos EUA (aqueles que usam sua força ou status para ameaçar e/ ou assustar pessoas que são menores ou mais fracas que as primeiras[1]). Dentro desta perspectiva, proponho considerar resiliente os gordos e obesos que vivem e sobrevivem em meio a uma cultura lipofóbica, que torna impensável imaginar que as gordas possam representar glamour ou atrativo sexual.
` `Boris Cyrulnik introduziu o conceito de resiliência em seus estudos psicanalíticos a respeito de crianças que conseguem vencer os grandes obstáculos traumáticos que a vida lhes impõem. A resiliência é a constatação de que a capacidade de resistir pode ser muito mais forte do que os pressupostos sobre os quais temos trabalhando nos últimos tempos. O resiliente é aquele capaz de reconstruir sua vida em termos socialmente reconhecidos, apesar de tudo que sofreu. E, é importante ressaltar que Resiliência não representa a ausência de sofrimento, mas a possibilidade de sobreviver, encontrando caminhos construtivos e aceitos socialmente. Isso parece bastante com as adversidades com as quais os obesos convivem o tempo todo, tendo que encontrar saídas para suas dores. Cabe esclarecer que a Resiliência não é do campo da psicanálise, mas é um conceito de abrangência multidisciplinar e do qual os diferentes campos do saber se apropriam e procuram articular aos próprios construtos teóricos.
2-Obesidade não é só uma questão cultural
` `Num esforço de contextualização para melhor compreender a questão, percebo que antigamente a definição do que era considerado “obeso” ou “gordo” era muito diferente. A definição social da boa aparência era outra. Gordura não era só sinônimo de beleza, mas, também, de status social. Não havia formosura, sem gordura! Gordura significava riqueza!. A partir da metade do século XIX a obesidade começou a ser rejeitada, apesar das preocupações dos higienistas da época alimentarem a moda da gordinha porque temiam que elas se tornassem anêmicas ou histéricas. O século XX trouxe muitas transformações. Na Europa, multiplicavam-se os ginásios, os professores de ginástica e os manuais de medicina - que chamavam atenção para as vantagens físicas e morais dos exercícios. As mulheres começam a pedalar ou a jogar tênis no continente europeu e não faltou quem achasse a novidade, imoral, ou até mesmo, pecado. E a relação estabelecida entre a posição sexual e o montar na bicicleta foi o responsável pela maior resistência ao novo meio de transporte para as mulheres por acreditarem que elas poderiam usar o veículo como fonte de prazer masturbatório. As mulheres tornam-se mais leves. As pesadas matronas de Renoir são substituídas pelas sílfides de Degas.
` `Hoje, microcâmeras entram no corpo e sugam camadas de gordura entre peles e músculos; transferência de gordura de uma região do corpo para outra, ou aplicações de silicone que funcionam como massa de modelar, permitem à mulher sentir-se mais magra com a ilusão de estar mais saudável. Hoje, a gordura cresce mais rapidamente entre as classes desfavorecidas que não podem se dar ao luxo de buscar tratamento médico e psicológico. Mas nada disso é novo. O Jornal O Globo, do dia 30 de janeiro de 2008 afirmava que “as dietas à base de farinha e frituras engordam a população pobre, fazendo com que o Brasil enfrente dois tipos de doença: as associadas à gordura e as ligadas à falta de comida”.
` `A obesidade é uma questão cultural e sabemos que ela também já teve um lugar privilegiado na história da humanidade. Desde o início dos tempos atuais, quando começou o culto à magreza, percebe-se que à obesidade foi destinado o lugar da exclusão. O mundo globalizado que diminui distâncias e espaços também ficou menor para os obesos. Em sua ambigüidade, a globalização disseminou os hambúrgueres e as fritas, que são os representantes máximos desse aumento de peso. Nestes tempos de “fast food” a obesidade ganha então uma nova dimensão, tornando-se um problema de saúde pública, saindo da polaridade feio x bonito ou aceito x excluído, para entrar na questão: morbidade x saúde.
` `Não há mais espaço para tantos excessos ou tanta gordura. Os obesos experimentam além da exclusão social e da falta de poder, uma baixa auto- estima que potencializa ainda mais os núcleos relativos à compulsividade, à ansiedade, às insatisfações sexuais e ao medo de se expor, tão presentes nesse processo de “engordamento”. Ainda assim, mesmo quando obesidade é doença, quem está ali é gente, com personalidade, voz, humor, jeitão. Mas os sintomas pouco representam se comparados com a morbidade encontrada quando a obesidade já está instalada. Refiro-me ao fenômeno da Obesidade Mórbida e de suas conseqüências, tanto do ponto de vista médico (a dificuldade nas articulações da marcha, a diabetes do tipo II, o
aumento da taxa do colesterol e do triglicerídeos, a hipertensão arterial e as eventuais complicações cardíacas que se seguem), quanto do ponto de vista emocional, como o processo de “anestesiamento” ou “congelamento” do nosso sentir.
3- O Papel da mídia e da escola na cultura lipofóbica:
` `Observemos o papel desempenhado pela mídia junto ao impuxo nas transformação dos corpos femininos. As mulheres estariam buscando atingir um determinado modelo, ou buscando agradar um companheiro? Nesta tentativa de busca, parece-me que elas se perdem num desacorçoado narcisismo. Vale lembrar que a definição que Laplanche utiliza para narcisismo é, por referência ao mito de Narciso, “o amor pela imagem de si mesmo”, tão presente na nossa sociedade. Esse narcisismo é alimentado por uma grande dose de masoquismo (haja vista o alto grau de sofrimento físico a que podem se submeter para atingir o “padrão Barbie de beleza”), impulsiona a “indústria do retalhamento” para níveis de requinte e de perfeccionismo só dignos de um Narciso da (nossa) era do titânio.
` `Como não podia deixar de ser, esse processo de retro-alimentação da auto-imagem não precisa necessariamente passar pelo outro, ou melhor, não considera o outro ou a opinião que ele possa ter sobre as causas ou os efeitos dessas possíveis transformações. É claro que acaba havendo um efeito sobre o outro, mas ele é fruto muito mais daquilo que esta mulher acredita ter transformado em si própria do que uma efetiva mudança nesse corpo retalhado. O outro parece estar muito mais identificado com aquilo que Narciso chamaria espelho (sobretudo o das academias de ginástica), ou ainda como corolário desta forma especular: fotografia, filme ou last but not least, televisão, ou seja, a ditadura da mídia.
` `Como contraponto, observo que não é dessa mulher plastificada que ouvimos falar em nossos consultórios. Os clientes adultos masculinos nos falam de companheiras de carne e osso, muito mais carne do que osso, ao contrário do que querem os meios de comunicação, e muito provavelmente o círculo de amigas e conhecidas que legitimam esse (falso) desejo de manterem um corpo esculpido de acordo com o “modelo Barbie de consumo”. As mães desses homens adultos, que exercem uma grande influência sobre suas escolhas amorosas, não partilhavam dessa estética perversa que veste como uma camisa de força o imaginário de suas mulheres e companheiras. Percebo uma tentativa, na maioria desses clientes, de provar para suas companheiras que estão satisfeitos com seus corpos, que chegam mesmo a achá-los belos, mas não são ouvidos, pois suas afirmações lhes soam como um reles afago numa ferida narcísica, não podendo, portanto, serem consideradas como verdadeiras. A verdade seria então atingir esse corpo apregoado pela mídia, calcado, no que chamo, de “estética da carência”.
` `É como se quisessem apagar as singularidades de cada corpo pela necessidade de identificação com um modelo predeterminado que não permite o desabrochar de uma identidade feminina, mais livre e menos comprometida com os ditames de uma lei que nos impede de envelhecermos com dignidade. Será que a tão exigida associação de saúde com juventude não permitiria outras formas de associação? Haveria a possibilidade de envelhecer de forma saudável sem se retalhar? Será que podemos escolher cultivar a sabedoria que o tempo proporciona? Ou será que o passar dos anos só pode nos trazer os malefícios da lei da gravidade?
Sempre lembrando do importante papel da educação na prevenção em geral e em especial da obesidade, volto a frisar que precisamos investir na educação nutricional e cívica, porque introduzindo noções de nutrição e de cidadania é que vamos conseguir fazer frente aos problemas enfrentados pelos excluídos e em especial, pelos obesos, que é o nosso objeto de estudo hoje. Seja contribuindo para que a obesidade não se instale ou contribuindo para que os obesos recebam o suporte necessário para a manutenção de sua saúde mental. Por isso, em meio ao bombardeio da mídia, precisamos estar atentos para o papel da escola, uma vez que é o Direito que vai permitir colocar em movimento as condições de uma sociedade multicultural, dando a legitimidade necessária às transformações que nossas instituições democráticas possam suportar. A importância do papel preventivo que a escola deve desempenhar é incontestável. A escola pode e deve ser um importante espaço de construção de resiliência. Linda Winfield (1994), da University of Southern California Graduate School of Education, citando vários estudos envolvendo os fatores ambientais de resiliência e mais especificamente o papel da escola, menciona que o relacionamento com os professores, a oferta de oportunidades de educação, a constante motivação, a manutenção de expectativas positivas e o chamado à participação em projetos construtivos e cidadãos, são importantes fatores de resiliência.
` `A resiliência deve ser construída sobretudo no espaço escolar
porque a escola, certamente, é um dos alicerces com os quais
` `aprendemos a contar, portanto é de capital importância que possa
ser usado também para ressignificar o lugar do gordo na cultura lipofóbica.
4 – A Obesidade Mórbida na cultura lipofóbica e algumas considerações sobre a cirurgia bariátrica:
` `Quando buscamos dar um contorno teórico à obesidade precisamos, em primeiro lugar, reconhecê-la como uma doença, para desta forma, sairmos do enfoque leigo que permite situá-la como uma falha de caráter ou mesmo falta de educação daquele que come mais do que precisa:
“Há uma série de mitos que ainda persistem sobre a obesidade e que atravanca de maneira absurda o conhecimento da doença – e é doença sim. A obesidade causa grandes dissabores aos gordos, quer físicos, estéticos ou psicológicos e, pior ainda, ela vem crescendo de maneira espantosa, caracterizando o que podemos chamar de epidemia de obesidade” (HALPERN, A. – Mitos e verdades - Obesidade, São Paulo, Contexto, 1997, p.9)
` `Aceita mundialmente como método mais eficaz de se determinar o grau de obesidade de uma pessoa é a avaliação do Índice de Massa Corporal (IMC). Este índice é calculado dividindo-se o peso em quilos pela altura em metros ao quadrado. Por exemplo, uma pessoa de 1,70 m e peso de 90 kg tem um IMC = 31,14, ou seja, tem uma Obesidade Leve. De acordo com a tabela abaixo são classificadas as diferentes categorias de obesidade
- IMC de 20 a 25 - Peso Saudável
- IMC de 25 a 30 – Sobrepeso
- IMC de 30 a 35 - Obesidade Leve
- IMC de 35 a 40 - Obesidade Moderada
- Acima de 40 - Obesidade Mórbida
` `Na visão de Alfredo Halpern as causas da obesidade são inúmeras e para ele a capacidade de uma pessoa engordar depende bastante de quanto ela come, mas também de quanto ela queima de calorias, ou seja, de quantas calorias são queimadas do depósito de gordura e de quanta gordura ela é capaz de fazer. Ainda na visão dele, depende do funcionamento de cada organismo e de seus componentes genéticos, uma vez que os genes influenciam mais a obesidade do que o ambiente. E eu falei sobre isso na semana passada, ou seja, Quando o pai e a mãe são obesos, a chance de seus filhos serem obesos é de 80%; quando só um dos pais sofre de obesidade, a chance do filho ser obeso cai para 50%. Entretanto, se os pais têm peso normal, a probabilidade de seus filhos tornarem-se obesos é menor que 10%: “A influência dos hábitos familiares – de comer muito ou de manter pouca atividade física – é indiscutível. Mas, com certeza, o fator genético pode muitas vezes explicar a obesidade familiar”. (op. cit., HALPERN, p.23) Foi na proporção da gravidade desses sintomas, que surgiu a nova terapêutica, a gastroplastia, que é a cirurgia de redução do tamanho do estômago. Esta é uma intervenção cirúrgica de grande porte que “opera a barriga, mas que não opera a cabeça”. Por isso é necessário um suporte psico-terapêutico que permita acompanhar as transformações estruturais pelas quais passa esse “novo corpo” para que, impedido de engordar e livre do efeito sanfona, possa mover-se em direção ao prazer.
` `A cirurgia bariátrica, por consenso mundial, esta indicada para os obesos que preencherem determinados critérios, tais como: possuir um Índice de Massa Corporal (IMC) maior que 40; ou no caso de ter o IMC maior que 35 com doenças associadas à obesidade; ou ainda quando se constata falhas nos tratamentos tradicionais prévios sob orientação profissional; também na ausência de doenças com riscos inaceitáveis para cirurgia; na ausência de doenças endócrinas como causa da obesidade; e na ausência de psicopatias graves, incluindo viciados em droga e álcool.
` `Quais os objetivos da cirurgia? O objetivo do tratamento cirúrgico é não só eliminar ou minimizar as doenças associadas à obesidade, como também resolver os problemas psicológicos e sociais causados pela mesma nas coisas mais simples da vida, como na higiene pessoal, problemas de locomoção, atividades sociais, sexuais e no trabalho. Resumindo, o objetivo do tratamento cirúrgico é melhorar a qualidade de vida do obeso, resolvendo os problemas de ordem física e psicossocial que o excesso de peso acarreta. Esta cirurgia só é indicada para quem tem Obesidade Mórbida, (IMC acima de 40) e não para quem só precisa perder alguns quilos que tem em excesso, como nos leva a crer a banalização desta cirurgia promovida pela mídia. O obeso mórbido, uma vez avaliada sua capacidade resiliente, tem o direito de buscar uma saída ou a cura para sua doença.
` `Com a disseminação que tem caracterizado essa cirurgia assistimos a um processo de banalização dos riscos que ela envolve, fazendo com que cada vez um maior número de pessoas busque essa alternativa como uma solução mágica para um problema que não pode ser tratado com varinha de condão, mas com muita seriedade para não perder de vista a gravidade deste procedimento cirúrgico. A cirurgia da Obesidade Mórbida é um procedimento complexo que pode ter intercorrências, como qualquer outra cirurgia de grande porte. Felizmente a incidência de complicações é pequena, fazendo com que a cirurgia, quando bem indicada e o paciente bem preparado, se torne um excelente método no tratamento da Obesidade Mórbida.
` `Esta cirurgia é tão ou mais radical e violenta quanto a própria obesidade. É claro que existe um ganho estético, mas o objetivo deve ser a busca e a manutenção da saúde e da vida. Esta cirurgia pode representar um limite ou um “basta!” que o obeso/doente sozinho não consegue dar. Isso não quer dizer que o obeso não tenha força de vontade[7]. Muito pelo contrário, pois a maioria dos obesos já se submeteu à inúmeras dietas, conseguindo perder até 30 ou 40 Kg. Manter o novo peso é muito difícil em função dos bloqueios emocionais e das dificuldades físicas que se somam a compulsividade alimentar.
` `Os pacientes vivenciam um verdadeiro processo de “Renascimento” depois da cirurgia. Com certeza não faltam motivos que justifiquem esta vivência, uma vez que esta cirurgia remete a pessoa a fases muito primitivas de sua vida. Estar limitado ao consumo, única e exclusivamente de líquidos, por exemplo, como acontece no pós-operatório imediato, facilita e explica esse processo regressivo. Portanto, é muito importante contar com o apoio de uma terapia individual ou de grupo. O Grupo Operativo oferece a oportunidade de trabalhar junto com outros obesos, trocando experiências sobre as questões relativas aos desconfortos, mudanças e conquistas experimentados pelos pacientes que se submetem a este procedimento cirúrgico.
` `Salvo algumas exceções, nossos desconfortos emocionais, nossas tristezas ou nossos momentos depressivos não costumam resistir a uma boa conversa, ou ao nosso programa preferido ou a uma boa sessão terapêutica, mas o sofrimento que a obesidade representa não dá trégua. O obeso não esquece nem um minuto que é obeso. Depois da cirurgia de redução do estômago uma paciente afirmou ter vontade de gritar: “A tortura da gordura nunca mais”. Esta aproximação entre tortura e gordura foi a mola mestra que me fez trazer para compreensão da obesidade o conceito de Resiliência, pois acredito que esta seja uma dor que só um resiliente pode suportar.
5-Conclusão:
Como atualmente o excesso de gordura aponta no sentido da ausência de poder, verificamos que o obeso é considerado socialmente um ¨sem-poder¨, alguém desprovido de voz e que busca e necessita uma representatividade necessária a sua sobrevivência. Mudanças, contudo, dependem diretamente da redistribuição de renda e do fim das desigualdades imensas presentes na nossa sociedade. Aí, sim, estaremos prontos para construir uma democracia inclusiva e intercultural.
Estudar a resiliência mostrou a possibilidade de perceber o conjunto de elementos sociais e individuais que protegem os sujeitos. Os estudiosos da Resiliência acreditam que o sujeito é capaz de suportar maiores choques e não se desestruturar completamente e afirmam de forma enfática que Resiliência não significa ausência de sofrimento, ou mais precisamente, de sofrimento psíquico. Acreditam que resiliência aparece também em determinados contextos como sinônimo de adaptação social, mas para eles seria necessário distinguir entre a readaptação social e a sobrevivência psíquica do sujeito propriamente dito. A desadaptação social, seja ela a delinqüência, a psicose, a neurose ou mesmo a impossibilidade de ganhar seu sustento, se fazem sempre acompanhar de um sofrimento psíquico enorme. Já o inverso está longe de ser verdade, uma vez que um sofrimento psíquico persistente pode ser compatível com uma boa adaptação. Dessa forma, eles concluem que a resiliência não evitaria a culpa, a neurose e muito menos excluiria o sofrimento. Para eles a atitude de um resiliente estaria mais próxima de querer afastar-se do sofrimento do que, propriamente, de cultivá-lo. Nesse sentido, parece que podíamos estar falando do obeso, esse mesmo que não cultiva a dor da exclusão presente na sua doença. A resiliência também não seria simplesmente o que chamamos de resistência, pois acredita-se que a resiliência acrescenta à resistência passiva uma dimensão dinâmica e positiva, ligada à capacidade de submergir, ou mais especificamente, a capacidade do sujeito se reconstruir. Entretanto se o estudo da resiliência ficar centrado no indivíduo, pode colocar toda a responsabilidade pelo próprio desenvolvimento sobre o sujeito obeso, e em suas características pessoais inatas. A resiliência só pode ser entendida como dinâmica: de fato ela é a interação entre as características do indivíduo e do seu ambiente. Ou voltamos aos velhos rótulos, aos preconceitos e à crença em indivíduos muito mais fortes, superiores talvez, não importando o que lhes aconteça.”
A noção de resiliência torna-se uma metáfora para a compreensão de uma nova visão do ensino, na qual políticas, estruturas escolares, programas e práticas possam ser desenhadas para proteger, cuidar e apoiar os estudantes no seu desenvolvimento ao invés de classificá-los, inibi-los e punir aqueles que não se enquadrem nos moldes do sistema. É dessa forma que encontramos solo fértil para criarmos fatores de resiliência para que os obesos possam existir.
Resumindo, o melhor da proposta da resiliência é que nunca se deve reduzir um sujeito a seu problema e, se enaltecemos os efeitos reais e incontestáveis do sofrimento, esquecemos de estudar os processos de reparação. O resiliente deve ser visto como um forte, que sobreviveu ao trauma com uma formidável energia psíquica e que poderia, a partir de então, usá-la para construir uma nova vida em bases renovadas, porque o relevante é ter sobrevivido. Dentre os fatores de resiliência, a gente pode afirmar que o principal deles é o suporte familiar, nas suas múltiplas formas de se apresentar; em seguida está a solidariedade do grupo social com o qual se convive e se estabelecem importantes trocas nos mais variados aspectos dessa convivência; a super importante prevenção escolar, que fala do acolhimento e da escuta, incluindo a divulgação das informações educativas sobre o assunto; e last but not least, os vínculos de fratria, que vão se tornando indispensáveis para sobreviver no mundo ocidental urbano, onde, por exemplo, as relações de amizade, vizinhança e compadrio chegam a substituir as verdadeiras relações familiares, que às vezes não estão podendo suprir suas funções. Mas a resiliência deve ser construída sobretudo no espaço escolar, bem como em todos os outros espaços propícios existentes nas comunidades.
- Macmillan Essencial Dictionary, pg 87.
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- Cf. BERTIN, Célia – A mulher nos tempos de Freud, São Paulo, Papirus Editora, 1990 e WEBER, Eugen – França, fin de siècle , São Paulo, Cia das Letras, 1988.
- LAPLANCHE E PONTALIS - (1991) Vocabulário da Psicanálise, 11a. ed., São Paulo, Martins Fontes, p, 287.
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- HALPERN, A. – Mitos e verdades - Obesidade, São Paulo, Contexto, 1997
- As informações dos dois últimos parágrafos foram extraídas de SÁ, Dirce de - “Gastroplastia: Uma Solução Mágica?”** in obra jornalística:”Oxigênio”, Ano III, n°17, Agosto de 2001, p.10
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- Cf. “Hipertexto” retirado do site intitulado : Cirurgia para Obesidade Mórbida – da Clínica GastroEnterológica Ribeirão Preto, sem identificação de autor, retirado da Internet em 11 de junho de 2003.
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- MARCHESINI, Simone Dallegrave - Aspectos Psicológicos da Obesidade, Internet, Junho de 2003.